A menina que não quis fazer cirurgia plástica parte 2

  Olá leitores. Mais um texto dessa série onde falando das artistas que eu passo o dia escutando, termino falando de mim. É possível começar lendo por aqui, mas se preferirem aqui estão os links para os textos anteriores.

A menina que não quis fazer ENEM parte 1.

A menina que não quis fazer ENEM parte 2.

A menina nobre que foi se aventurar no estrangeiro parte 1.

A menina nobre que foi se aventurar no estrangeiro parte 2.

A menina que escolheu não esperar

A menina que precisa se fingir de pobre para não ir presa parte 1.

A menina que precisa se fingir de pobre para não ir presa parte 2.

A menina que não quis fazer cirurgia plástica parte 1.





Shuhua "A Bebê" cortando cabelo para tratar um corte químico.




Uma vez que o K-pop é uma cena musical de qualidade baixa. Onde os artistas raramente se apresentam com banda ao vivo, preferindo ter os instrumentos pré gravados, e até a voz é pré gravada para acudir o artista em caso de erro na performance ao vivo. Onde mesmo a voz ao vivo costuma ter efeitos que colocam em dúvida a real capacidade dos artistas. É natural que a música não seja o assunto mais comum nas entrevistas. Seria falar de um assunto que a imensa maioria do público não entende nem se interessa.

O assunto mais corriqueiro tende a ser cor de cabelo. Depois vem outros assuntos sem ficar muito claro qual é o segundo. Temos roupa, maquiagem, unhas, performance de dança e música também. Mas o cabelo costuma ser o assunto mais comum. 

Os sul-coreanos ou cidadãos da República da Coreia, pois o país não têm “sul” no seu nome, tem uma dificuldade enorme de se reproduzir entre si, e uma dificuldade imensamente maior de procriar com estrangeiros. Declarações racistas em redes sociais são vistas com naturalidade. Uma mulher falar nas redes sociais que gosta de transar com negros mas que jamais teria filhos com um é uma declaração que é compartilhada por outras mulheres como se fosse um pensamento razoável. 

Como resultado dessa postura temos o país com a menor taxa de fertilidade do mundo, 0,78 filhos por mulher (2022), e temos um país onde quase todo mundo tem o cabelo da mesma cor. Muitas meninas em idade escolar querem ser artistas porque colegiais normalmente são proibidas de pintar o cabelo. A menos que a colegial seja artista,  nesse caso a proibição é relaxada. Pintar o cabelo antes de completar dezoito anos é o sonho de muitas meninas. 

Grande parte da minha identidade vem de ter crescido com uma irmã que tem cabelo, olhos e pele de cores um pouco diferentes das minhas. O suficiente para me fazer perceber que ser parente não é ser idêntico. Nem na aparência nem no comportamento. Imagino como deve ser horrível crescer na Coreia do Sul. É como viver cercado de cópias por todos os lados. No entanto, a única solução verdadeira para o problema que é a miscigenação nem é considerada. As pessoas preferem pintar o cabelo e usar lentes de contato coloridas.

Muitos que não podem pintar o cabelo por causa da escola ou do trabalho, projetam essa necessidade de cabelos de cor diferente nos artistas. A pressão para que eles estejam sempre mudando de cor de cabelo é muito maior do que a pressão para que eles cantem e dancem bem.

No meio dessa pressão toda houve uma artista da cena K-pop que se destacou ao completar quatro anos de carreira sem nunca pintar o cabelo. Shuhua A Bebê, artista mais nova do grupo (G)I-dle. 

Essa resiliência que eu via como maior qualidade na Bebê era vista como defeito pela gravadora e principalmente pela artista que é uma das membros mas que tem tanto poder que pode ser considerada dona do grupo. A que gosta de ser chamada de Capitão Soyeon.

Evidente que as qualidades da  Bebê não se resumiam ao cabelo original. Ela é uma verdadeira artista. Tem uma ânsia de se expressar e pode fazer isso de praticamente qualquer maneira. Se tocam uma música ela dança, se lhe dão um microfone ela canta, se lhe dão um instrumento ela toca, se lhe dão tintas e uma tela ela desenha, se lhe dão um texto ela interpreta. É verdade que ela não faz nada disso bem. Mas arte não tem a ver com qualidade. O real motivo dela ter conseguido ser contratada por uma gravadora não foram esses dotes criativos, foi apenas a beleza. O que é motivo para ela receber muito ódio por parte dos ignorantes, que não entendem que um grupo precisa ter pessoas bonitas, e que as talentosas a menos que sejam realmente muito talentosas não seguram o negócio sozinhas.

A gravadora Cube e a dona do Grupo Soyeon montaram uma estratégia para fazer o grupo renascer no final da pandemia através do lançamento de dois álbuns. A ideia era  gastar todo o dinheiro disponível na divulgação do primeiro desses dois  álbuns, não obtendo nem um lucro e fazer uma divulgação econômica de um segundo álbum. Que venderia muito em virtude da propaganda feita para o anterior.

A Soyeon aproveitou essa estratégia e a inocência da Shuhua para forçar a Bebê a finalmente pintar o cabelo, explicando para ela que se o segundo álbum não vendesse bem, o prejuízo ia ser gigantesco. E que para o álbum vender bem seria essencial que ela pintasse o cabelo. 

É bom explicar que pintar o cabelo para um artista não é a mesma coisa que é para uma pessoa normal. Que pode deixar o cabelo com duas cores sem maiores problemas. O artista precisa ficar retocando constantemente a tintura, o que termina causando uma violenta queda de cabelo e uma perda de resistência conhecida como corte químico. Para combater isso, as artistas se vêem obrigadas a tomar remédios. Então forçar alguém a pintar o cabelo nesse contexto não é um atentado apenas a estética mas a integridade física. Essas artistas não gostam de falar dos remédios que tomam, mas nos momentos  que perdem a paciência já deixaram vazar que o consumo de remédios para emagrecer e para ficar acordadas na hora de shows, quando estes acontecem em outros fusos horários, são uma constante.

Quando você começa a acompanhar um grupo desses você vira um torcedor, é como se fosse um time. Eu consigo conviver com pessoas muito diferentes de mim normalmente, mas nesse período em que a Bebê apareceu com o cabelo loiro fiquei desconfortável. Ninguém percebia a bizarrice que é obrigar uma chinesa que não queria pintar o cabelo de jeito nem um a pintar, e para quê? Para se fingir de branca. Todos celebravam o acontecido com adjetivos vazios. Eu fui largando o grupo aos pouquinhos a partir desse momento, mas ainda assistia algum conteúdo. 




Shuhua "A Bebê" em Bangkock fazendo seu último show com cabelo saudável.



Os vídeos de bastidores demoram um bom tempo para serem lançados, então quando saíram vídeos mostrando a época  que o tal álbum das falsas loiras estava sendo gravado, ele já estava sendo promovido. Através desses vídeos  eu percebi um certo racha no grupo. Isso me deixou curioso e eu fui voltando a ver conteúdos que eu tinha deixado passar.

O que eu disse lá  nos primeiros dois textos sobre a Soyeon sozinha ser mais artista que as outras cinco somadas continua sendo a minha opinião, para aquela época. Mas claramente as outras cinco foram crescendo. A líder Soyeon que no começo se esforçava para que todas brilhassem não teve maturidade para ver as colegas crescendo. Começou a abusar do poder que tinha para prejudicar as companheiras. Mas me alegrou ver que as outras membros não eram otárias, houve resistência. A liderança do grupo que era incontestável passou a ser dividida. Meu interesse retornou.

Elas não se enfrentam de forma clara, as brigas que saem na frente das câmeras são roteirizadas, mas alguém atento percebe que algo está acontecendo.  Em um certo momento de frustração contra a Soyeon eu vi a Rato e a Cachorro colocando o dedo na boca  e entortando a boca para o lado. Imediatamente entendi o significado desse gesto. Elas estavam zombando de uma sequela de cirurgia plástica que a Soyeon tem. Ela entorta a boca enquanto canta.




Nisha "A Rato Minnie" colocando o dedo na boca para zombar de  uma sequela de cirurgia plástica da Soyeon "A dona do grupo", Soyeon ao lado ri e finge que leva a ofensa na esportiva.


Essa atitude me fez pensar em muitas coisas. Primeiro que a frustração por causa dos desmandos da Soyeon são grandes, ou elas não pegariam tão pesado na zombaria. E segundo, o mal que a Soyeon faz às colegas não é nada comparado ao mal que ela fez e faz a si mesma.

A boca torta é só uma das sequelas de cirurgia que ela exibe hoje. Ela também tem um cacoete de ficar enchendo as bochechas. Isso porque antes ela era bochechuda, mas modificou isso com cirurgia e fica tentando fazer as bochechas voltarem a ser o que eram antes. Há muitos outros problemas, ela precisa de muita maquiagem para disfarçar o estrago que fez na parte debaixo do rosto. Com vinte e cinco anos a pessoa já está toda sequelada mas a tendência é piorar.

Pensar nisso me fez perceber que a principal característica da Bebê Shuhua não era o cabelo que nunca tinha sido pintado, mas o corpo que nunca passou por cirurgia plástica. E isso a Soyeon não vai conseguir mudar porque não é comum fazer esse tipo de cirurgia depois de já ter estreado. 

As outras três membros do grupo também fizeram alguma cirurgia desse tipo, nada  tão exagerado quanto a Soyeon mas precisam esconder algumas sequelas, que essas cirurgias normalmente deixam. Disso a Shuhua está livre. O cabelo ficou uma porcaria mas um dia vai se recuperar. Se as brigas continuarem  quando isso acontecer o grupo já vai ter acabado, mas tudo bem.  

Se antes eu tinha curiosidade para ver o grupo terminar para assistir a Soyeon sozinha, hoje eu quero ver as outras artistas livres da liderança opressiva que a Soyeon vem exercendo. O grupo no começo tinha seis artistas, hoje tem cinco e a sexta que saiu já está me dando uma ideia de como é a vida de uma artista depois de ter passado pelo (G)I-dle.




        Até a próxima.




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              Tenho aulas de Judô na Ikigai Dojô em Crato, Ceará e sou atualmente 4º kyu (faixa laranja).

             Meu plano é ensinar sobre esporte e guerra através do xadrez e do judô.

             Pretendo lutar no Campeonato Cearense 2024 - 2ª etapa, no dia 27 de julho.

              Qualquer ajuda é bem vinda, me ler já é uma grande ajuda. Divulgar é muito bom. Ajuda em dinheiro também.



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              Estimativas de gastos para lutar no Cearense 2ª etapa:


              Prestações do Quimono branco por pagar 3x R$ 46,36

              Quimono azul R$ 380,00

              Inscrição R$ 120,00

              Passagens de ônibus R$ 205,60

              Pernoite em pousada R$ R$ 150,00

              Alimentação R$ 120,00



         

Consulta de preço de passagem (apenas ida).




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