A menina que escolheu não esperar

  Mais um texto elaborado dessa série onde com a desculpa de falar das artistas que eu passo o dia escutando, termino é falando de mim.




Cho Mi-yeon: Uma criança inocente antes de se envolver com a nojeira do Kpop




        Isso é uma série de textos, se não leu os outros talvez prefira começar por esse aqui:





        
Olá leitores 

No período em que joguei League of Legends (LOL) com mais frequência, convivi muito com adolescentes na internet. Eu nunca fiz nem um tipo de esforço para me parecer com um deles. É totalmente possível identificar a idade de uma pessoa pela maneira como ela escreve, mas mesmo assim às vezes eles demoravam a perceber que estavam "teclando" com alguém bem mais velho. Por vezes ao perceber que tinham acabado de jogar ao lado de alguém com a mesma idade que o pai ou a mãe. Aqueles parentes que não entendiam nem apoiavam o joguinho, eles ficavam felizes, e vinham me contar do desejo de um dia se tornar jogadores profissionais de LOL. Achavam que iam encontrar um adulto que ia ser complacente, então eu revelava que não aceitava que um jovem que desejasse seguir essa carreira não aprendesse a falar inglês e coreano o quanto antes. Era um choque de realidade perceber que minha abordagem era ainda mais dura do que a dos pais deles.

O competitivo de LOL brasileiro não existe. O que existe é um competitivo de São Paulo que finge ser brasileiro. É uma absoluta vergonha um jogo que só funciona de forma plena em um dos estados da Federação se dizer um esporte. Só existe uma lan house que roda LOL no Brasil e o LOL de Lan house é muito diferente do LOL de internet, especialmente em um país gigantesco como o nosso.

O único lugar do mundo onde esse jogo é tratado como esporte é na Coreia do Sul. Então se você quer ser alguém nele não tem outro caminho viável que não seja ir para lá. Claro que você também pode decidir ser um farsante que fica lá em São Paulo se fingindo de alguém.

O principal motivo do LOL ser uma perda de tempo é essa imensa dificuldade de se encontrar uma competição de verdade. No judô um tatame é um tatame, uma área de luta é uma área de luta. Existem grandes diferenças no treinamento competitivo, mas o chão onde te derrubam aqui no Crato ou no Juazeiro do Norte não é muito diferente do chão onde lhe derrubariam lá em Tóquio. A língua japonesa está para o judô como o coreano está para o LOL. Mas como o judô está muito capilarizado, aprender japonês para ser judoca não é essencial, com exceção de algumas poucas palavras. Apesar de não ser essencial, eu tenho estudado, inglês e japonês.

Essa minha posição sobre a necessidade de se estudar coreano para se profissionalizar no LOL já era forte mesmo antes de eu conhecer o (G)I-dle e a Rato Minnie, mas encontrá-la confirmou minhas ideias. Saber que ela foi morar na Coreia do Sul sem saber falar o idioma e aguentou ficar, deixa claro que esse é o caminho de quem quer vencer. Obviamente as outras estrangeiras passaram por um problema parecido mas com diferenças significativas. A principal diferença é que enquanto a Rato gosta de contar a própria vida e com detalhes, as chinesas não. Sabemos que a Rato chorou todas as noites nos primeiros três meses que morou na Coreia do Sul por não ter com quem conversar no próprio idioma porque ela contou. A Cachorro deve ter sofrido algo parecido mas ela não conta. Ela é a "Cachorro que morde quem tenta fazer carinho" segundo o rap. 

Sabemos que a Rato chegou na Coreia em janeiro de 2015 porque ela contou. Não sabemos quando a Cachorro chegou porque ela não contou. Sabemos que a Rato se sentiu sozinha durante um ano e meio até quando finalmente aprendeu a conversar em coreano porque ela contou. Da Cachorro não sabemos porque ela não contou.

Mas dá para saber que a experiência da Cachorro foi menos ruim porque com algum tempo trouxeram outra chinesa para ela ter com quem conversar. Mais uma vez a data certa é desconhecida e a outra chinesa não é muito de contar essas coisas também.

Talvez seja interessante explicar que a Cachorro veio de Pequim e a outra chinesa, (a Bebê), veio de Taiwan. Tanto Taiwan quanto Pequim se consideram capitais da verdadeira China, são inimigos que vivem em risco de entrar em guerra, portanto as duas chinesas do (G)I-dle são tecnicamente inimigas, mas apesar dessa pequena dificuldade diplomática elas conseguem se entender em suas línguas maternas. O chinês da Bebê é chamado de chinês tradicional, uma forma do governo dela lembrar que existe a mais tempo, enquanto o chinês da Cachorro se chama chinês simplificado, uma forma de seu governo se vender como uma evolução necessária, mas elas conseguiam conversar tranquilamente. Às vezes ter um inimigo com quem conversar é melhor do que nada.

Retornando ao assunto onde encerrei o último texto dessa série as meninas estavam com um problema relacionado à idioma. Elas tinham uma cantora profissional com uma formação mais profunda do que qualquer uma na Coreia do Sul, mas que não era uma falante nativa do coreano e precisavam de uma cantora coreana para resolver esse problema. Elas tiveram sorte, ou simplesmente os acontecimentos têm o hábito de ajudar quem sabe o que está procurando, fato é que eles encontraram alguém que resolveu o problema de forma mais que satisfatória.

A gravadora do (G)I-dle se chama Cube e não é a maior do Kpop, também não sei em que posição está. A maior gravadora do Kpop é sem dúvidas a YG Entertainment. Eles simplesmente tiveram a sorte de gravar Gangnam Style, a música de maior sucesso internacional da história da Coreia do Sul. Essa música fez tanto sucesso e essa gravadora ganhou tanto dinheiro que mesmo trabalhando mal e porcamente eles não descem do pedestal de gravadora gigante!

O artista conhecido como "Psy" já era um artista formado antes de assinar com a YG, mas os artistas que essa empresa formou depois são treinados para serem robôs. Eles devem cantar sempre do mesmo jeito, dançar sempre do mesmo jeito, as músicas e coreografias são apenas cópias de músicas e coreografias  que já fizeram sucesso antes. Mas a pior parte é que os artistas que estão estagiando lá não sabem se um dia vão realmente estrear.

Em 2015 uma das estagiárias da YG que já estava a cinco anos esperando para estrear desistiu de esperar. Largou o estágio e foi passar um tempo no Japão. Até aprendeu o idioma, tenho muita admiração por quem fala mais de um idioma. De alguma maneira a gravadora CUBE a contratou, foi como achar dinheiro no chão.

No Kpop você não forma realmente cantores, a produção desses grupos funciona de uma maneira bem mais econômica. Um cantor para estar realmente formado lá pelos vinte anos que é a idade em que eles costumam estrear precisa ter começado a praticar bebê. E as gravadoras não têm recurso para contratar bebês. O que elas fazem é contratar alguns cantores que vem treinando desde  quando aprenderam a falar e misturam esses cantores com outros jovens que não tem uma formação tão profunda e produzem as músicas de forma que os que sabem cantar escondam as limitações dos que não sabem cantar.

O (G)I-dle  tem duas membros que são realmente cantoras. A Rato Minnie que mesmo tendo nascido em outro país foi parar na CUBE e a Miyeon, essa moça que estava estagiando na YG e cansou de esperar a estreia. A Miyeon ou princesa Miyeon tem quase o mesmo nível da Rato. A Capitão Soyeon apesar de ser uma artista extremamente talentosa, começou a treinar canto já adolescente, por mais que se esforçasse não conseguia alcançar o nível das que começaram a treinar canto ainda bebê. Como já disse aqui, quando eu comecei a assistir essas meninas eu só tinha olhos para a Capitão. Ela encontrou uma maneira poderosa de chamar atenção para si. Treinou atuação, tudo que ela faz é interpretado, e aprendeu a falar rápido. Virou rapper. Ela sabe cantar, se a música está compatível com a voz dela ela canta bem, mas é limitada em relação às verdadeiras cantoras do grupo, apesar disso essas três que realmente levam as músicas. Mas notem que o grupo estreou com seis membros, três responsáveis por segurar o canto e o rap, que é só uma forma modernosa de poesia e três que tinha funções mais ligadas à aparência.

Essa maneira de organizar grupos testou a humildade da Princesa a níveis franciscanos. Como é muito comum contratar uma menina bonita para participar de um grupo desses mesmo sem saber cantar e dançar, e como a Miyeon é considerada bonita, os que não entendem nada de canto acham que ela foi contratada por ser bonita. Mesmo as páginas de fã dela colocam que ela é "visual e vocal". Visual é a moça que é contratada só para ser bonita.

Ela não podia e até hoje não pode se revoltar, gritar que sabe cantar e que não é visual coisa nem uma. Ela tem que humildemente aceitar esse adjetivo que na prática é até ofensivo. Tudo que ela pode fazer é muito discretamente se apresentar como vocal: "Sou Miyeon, sou uma vocal", sem falar de aparência, e claro continuar entregando uma performance vocal de alto nível.

Além de ter que ficar calada enquanto os ignorantes não percebem o quão bem ela canta ela precisa aceitar humildemente outra questão que na cultura dela é bem grave. Ela é a mais velha do grupo. A cultura coreana leva isso muito a sério, existe todo um formalismo para se dirigir a uma pessoa mais velha, mesmo que só tenha nascido um ano antes.

Até junho deste ano na Coreia do Sul todos faziam aniversário dia 1 de janeiro. Então quem nascia em 1 de janeiro tinha que tratar com grande reverência quem tinha nascido no dia anterior, 31 de dezembro. Esse ano essa lei maluca foi revogada mais na época que o (G)I-dle começou nem se falava em abolir isso. Mesmo assim, não havia nem uma reverência a Miyeon por causa da idade. A chefe do grupo era a Soyeon que era a coreana mais nova do grupo e que só era mais velha que as chinesas. As estrangeiras vêm de culturas que não tem esse grande respeito aos só um pouco mais velhos, então Miyeon teve que aceitar que apesar de ter nascido primeiro não ia ser tratada como tal.  No máximo chamam ela de "uni" (irmã mais velha) e nada mais.

As partes mais difíceis da música ficam para a Rato, as partes mais fáceis, mas que precisam ser cantadas com grande maestria ficam para a Princesa Miyeon. A Capitã apesar de cantar  pouco, assume grande importância com seu rap. As outras três vou contar o que fazem outro dia.  




Princesa Miyeon fantasiada de si mesma - Fonte: Twitter




Quando eu terminar de falar das seis vou transformar tudo em um livrinho gratuito que vou distribuir para fazer propaganda do meu blog, acho que já passei da metade, porque os três membros que faltam são menos complicadas de explicar.

Mas antes tem uma terceira coisa que testa a humildade da Princesa. Ela fazia parte de um grupo de cinco estagiárias, quando ainda estava na YG que ficou com medo de perder mais gente e correu para estrear logo as quatro que sobraram e lançou o Black Pink, um grupo de imenso sucesso. Eu não suporto, porque é muito robótico, mas como pertence a YG que tem muito dinheiro para divulgação os números são muito maiores que os números do (G)I-dle. O sucesso das antigas colegas da Princesa obriga ela a responder toda hora perguntas chatas. Se ela saiu da YG porque foi expulsa. Se ela não se sente uma fracassada por estar em um grupo menos conhecido, e outras canalhices do tipo.

Na prática o (G)I-dle é um grupo muito melhor para se estar do quê o Black Pink, porque a CUBE com todos os seus defeitos não é tão cretina com os artistas quanto a YG mas a Princesa não pode responder de forma tão grosseira. Ela tem que responder com muita educação. Que é feliz onde está, que tem uma liberdade criativa que não teria lá, e tal e tal.

Ou seja, ela não é santa, até porque nem é cristã, mas pelo menos para mim é um exemplo de paciência. Eu no lugar dela já tinha mandando todo mundo ir fazer coisas feias e seria chamado de qualquer coisa, menos de Princesa, mas a Miyeon mantém a pose sempre.

Vou colar a música do (G)I-dle que eu mais gosto, Allergy aqui. Miyeon é a que canta o "love me, love me, love me...








        Instagram da Princesa Miyeon



        Textos relacionados:


        Meu diário do dia 19/11/23: [Show do (G)I-dle para o público do Worlds]









        Meu plano é ensinar sobre esporte e guerra através do xadrez e do judô. Pretendo lutar no campeonato cearense que ainda não tem data marcada mas provavelmente acontecerá daqui a seis meses. Para isso preciso pagar o quimono branco, (faltam seis prestações), e comprar o azul, além  de arranjar dinheiro para inscrição, viagem e alimentação. Qualquer ajuda é bem vinda. Me ler já é uma ajuda. Divulgar é muito bom. Apoio em dinheiro também.


         Pix, Paypal e e-mail: diegosergioadv@gmail.com






Divulgação do Cearense 2023. Quero lutar no 2024




Minha mãe está rifando uma calça igual a que ela fez para Max Petterson, basta falar com ela no Instagram.


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