2024 Grand Slam de Baku de judô

 

         Alguns pensamentos sobre a vida e sobre o evento do último fim de semana.








Algumas semanas atrás um amigo me mandou uma mensagem mostrando que estava jogando um jogo chamado "A lenda de Zelda - Ocarina do Tempo." Trata-se de uma verdadeira obra de arte. Uma contemplação sobre o ato de crescer, envelhecer e morrer. O personagem principal tem a oportunidade de crescer durante a história e reencontra personagens. Alguns apenas cresceram, outros ficaram calvos e outros morreram. A ideia de parar os meus o que fazer para jogar um jogo desses a princípio me causou grande repugnância. Vivemos uma situação em que precisamos estar, trabalhando, estudando ou treinando para não nos sentirmos inúteis. Jogar  um jogo onde o boneco está sempre correndo e lutando como Megaman X é aceitável. Jogar um jogo onde você é convidado a parar no alto de uma montanha e conjecturar sobre a brevidade da vida lhe passa a impressão de que você está perdendo tempo. 

O Japão é um lugar curioso. Como todo país do mundo tem pessoas horríveis que nem são dignas de nota. Mas de lá saem verdadeiros gênios. Kurozawa, o maior cineasta de todos os tempos. Miyamoto, o maior designer de jogos de todos os tempos. E claro, Kano! O homem que ensinou ao mundo que artes marciais podem ser usadas de forma pacífica. Uma visão que não é dele, mas que ele conseguiu divulgar como nem um outro. 

Eu me dedico a entender aspectos daquela cultura e pretendo separar alguns fins de semana para jogar aquele que é considerado o melhor jogo de videogame de todos os tempos, Zelda Ocarina do Tempo. A grande obra prima do japonês Miyamoto. Um dia inclusive quero jogar em japonês. Um dia. Mas não nesse último fim de semana. Porque nos últimos dois dias eu me dediquei a contemplar a obra de outro japonês. Jigoro Kano. Ao assistir ao Grand Slam de Judô de Baku no Azerbaijão. 

A primeira coisa  que chama a atenção é que o público azeri é bem menos efusivo do que os portugueses e franceses que abrilhantaram os eventos passados, e sobre os quais também escrevi algumas linhas.

Depois chama a atenção o fato de que mesmo sendo um Grand Slam, os lutadores japoneses não vieram. Eles são sempre os grandes vilões dos eventos que participam. Mas tudo bem. Judô e sua competição, o shiai, é sobre o seu desempenho e não sobre o adversário. 

Os azeri conseguiram dois ouros, a torcida local comemorou claro, mas de forma muito contida.

Haviam brasileiros mas não conseguiram medalhas.

O atleta que mais me chamou atenção foi um cubano. Silva Morales. Ele não conseguiu medalha. Mas o judô positivo que ele demonstrou foi tão empolgante. Que até o adversário se empolgou. O cumprimento depois da luta mostrou que ele estava realmente impressionado. A maioria das lutas que eu assisto, quando acaba eu só acelero para a próxima. São poucas as que eu paro para ver a comemoração, e menos ainda as que eu pauso o vídeo e vou procurar informações sobre algum lutador. 

Silva Morales foi um que me fez pausar o vídeo. Redes sociais em Cuba são pouco usadas. O pessoal tem que ir para as praças e ainda precisam pagar. Por isso eu não tinha muita esperança que o Yudansha Morales visse meu cumprimento e felicitações pela boa luta. Mas para minha surpresa ele viu e respondeu. Eu fiquei muito contente com isso. Espero um dia poder encontrá-lo pessoalmente.

Teve outro caso em que eu fiquei com vontade de pausar o vídeo para procurar sobre um atleta. Não pausei porque estava assistindo ao vivo, mas foi nos jogos olímpicos de Tóquio 2020, que aconteceram em 2021 por causa da pandemia. Depois de assistir uma disputa  de bronze em que uma lutadora chamada Daria Bilodid lutou e venceu.

Antes de ganhar essa medalha de bronze ela tinha perdido a semifinal. Nos jogos olímpicos a semifinal é disputada alguns minutos antes das disputas de bronze e de ouro, não é como o circuito mundial onde as semifinais são disputadas várias horas antes. Eu assisti todas as semifinais e disputas de medalhas de judô naquele dia. Eu raramente assisto esporte ao vivo mas dei um jeito de ver o dia da categoria -48 que é a que eu mais gosto de assistir.

A Bilodid na categoria -48 era gigante, bem maior do que as adversárias, mesmo assim o tamanho nem sempre resolve e ela perdeu a semifinal. Me chamou atenção o fato de que ela não demonstrou nem uma emoção nessa derrota. Ficou completamente inexpressiva. Minutos depois ela voltou à área de luta para disputar o bronze e venceu. Assim que o resultado saiu ela começou a chorar muito. Soluçando. Era tristeza. Ela estava deixando sair a frustração por ter perdido a semifinal ainda não era a comemoração do bronze. Que só veio horas depois. 

Quando ela comemorou o bronze eu já a seguia no Instagram e vi, mas na cerimônia do pódio ela ainda estava bastante triste. 

Eu procurei saber a história da Bilodid. Aos 16 anos ela era uma moça bem alta para o peso mas com troncos e membros bem finos. Os ossos eram finos, então ela podia manter uma considerável massa muscular mas continuar fina, continuar pesando menos de quarenta e oito quilos. Com essa vantagem genética ela foi a campeã mundial de judô mais nova da história e no ano seguinte bi-campeã. Depois aconteceu com ela o mesmo que aconteceu com o boneco do videogame no jogo que eu falei no começo do texto. Ela cresceu. Se os jogos olímpicos tivessem acontecido em 2020 ela ainda não teria crescido tanto. Mas foram em 2021. Ela tinha crescido ainda mais. Foi muito difícil bater o peso. Ao contrário de quando tinha 16 anos, não dava para manter muita massa muscular, os ossos estavam no tamanho normal para uma adulta. Isso a prejudicou, a medalha de bronze já foi uma conquista excelente, mas ela sabe que poderia ter conseguido muito mais um ano antes.

Por isso a gente deve lembrar e entender o criador do judô quando disse que a única vitória verdadeira é contra a própria ignorância. Vencer em qualquer esporte quase sempre é consequência das circunstâncias. A maioria das pessoas nem têm recursos para praticar esportes. O adversário muitas vezes teve que passar por dificuldades muito maiores que a nossa. Então não vale a pena se gabar. Um dia você é a menininha dos braços finos que vence sem dificuldade, no outro dia você não consegue nem vencer a balança.

No jogo da Ocarina do Tempo o boneco consegue voltar a ser criança enfiando a espada em uma pedra. Mas na vida real não existem espadas mágicas. A Bilodid terminou de crescer e não tem espada que mude isso. Ela não consegue mais lutar no -48. Está tendo que se virar no -57, duas categorias acima. A bi campeã mundial, que se recusava a comemorar o bronze olímpico, agora precisa comemorar o bronze em uma etapa do circuito mundial onde os japoneses não vieram lutar. E talvez o bronze de agora seja mais significativo na jornada dela do que as medalhas anteriores. Ela não é mais a gigante muito maior que as adversárias, ela precisa lutar contra mulheres de tamanho parecido. Os ucranianos como ela tem valorizado cada medalha e cada pódio, pois mostrar a bandeira deles é uma maneira de chamar atenção para o que está acontecendo no país deles. 

Da competição deste fim de semana o que eu tinha para dizer é isso. Daqui a duas semanas haverá a primeira etapa do cearense, eu não vou lutar ainda, mas pretendo assistir com bastante atenção, e escrever sobre.


Até mais. Bons trabalhos, estudos e treinos. Mas também, bons momentos de ócio e contemplação, todos nós precisamos disso.


 



        Pix, Paypal e e-mail: diegosergioadv@gmail.com


                Algumas Pessoas citadas no texto:


                Meu amigo Professor Jayme Xavier

              Meu amigo Morales

                Bilodid




             Tenho aulas de Judô na Ikigai Dojô em Crato, Ceará e sou atualmente 4º kyu (faixa laranja).

             Meu plano é ensinar sobre esporte e guerra através do xadrez e do judô.

             Pretendo lutar no Campeonato Cearense 2024 - 2ª etapa, no dia 27 de julho.

              Qualquer ajuda é bem vinda, me ler já é uma grande ajuda. Divulgar é muito bom. Ajuda em dinheiro também.



                Pix, Paypal e e-mail: diegosergioadv@gmail.com

            



              Estimativas de gastos para lutar no Cearense 2ª etapa:


              Prestações do Quimono branco por pagar 3x R$ 46,36

              Quimono azul R$ 380,00

              Inscrição R$ 120,00

              Passagens de ônibus R$ 205,60

              Pernoite em pousada R$ R$ 150,00

              Alimentação R$ 120,00



         

Consulta de preço de passagem (apenas ida).




Local e data da minha próxima luta.




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