Remoto e Presente. Parte 1.
Remoto e Presente. Parte 1.
Olá leitores.
Graças a vocês cumpri a missão que eu tinha me imposto ano passado de lutar no primeiro campeonato desse ano. Obrigado!
Minha irmã que mora em Lisboa estava aqui no Crato e eu passei os últimos dois dias acompanhando ela e ajudando. Hoje teve aula de judô mas eu estava tão cansado, de lutar, de viajar, de correr por causa da minha irmã, que fiquei só olhando. Não tinha como treinar. Físico né, porque para não ficar sem treinar nada já dei uma treinadinha de Street Fighter antes de começar a digitar aqui.
Agora queria dividir alguns pensamentos e memórias com vocês, em agradecimento ao apoio na minha viagem e luta.
Como eu contei no Post Scriptum do último texto, enquanto corria atrás de dinheiro e me preparava para viajar, terminei descobrindo um software de jogo que foi muito importante para manter minha mente focada em um momento em que eu não tinha como treinar o corpo direito.
Ou seja, descobri o último Street Fighter que saiu para Super Nintendo em 1996, mas o que saiu primeiro em 1991, esse eu conheci em 1994 quando eu ainda era criança. A ideia básica do jogo me marcou até hoje, porque mostrava um lutador viajando pelo mundo para encontrar e lutar com outros lutadores. Essas viagens eram representadas em um mapa do mundo e um pequeno aviãozinho.
O personagem do jogo mais bem feito era o Ryu que depois apareceu em um desenho do SBT. Os outros personagens eram bem menos interessantes, o personagem brasileiro então era talvez o mais tosco. Mas a jornada do Ryu eles souberam representar bem. Principalmente a necessidade de viajar para se aprimorar, que é algo muito real.
Viagens são muito complicadas. Ainda não viajei de avião, mas para essa competição de sábado passado me joguei em uma aventura ainda mais desafiadora, viajar em ônibus convencional.
Na Sexta-feira seis da manhã eu já estava na Rodoviária de minha cidade com minha mochilinha de carregar coisas esportivas, ela só tem um compartimento e um zíper. E com minha malinha, na verdade é uma mala bem grande com duas rodinhas e com uma aparência de mala de vó. Quando o ônibus chegou na plataforma, um funcionário desceu, e começou a gritar.
— De Crato para Fortaleza, saída às seis e vinte e quatro. Indo para Fortaleza mas passando pelo Ceará todinho, todos os municípios. Um arrodeio danado.
Sério. Ele falou desse jeito. Aí eu coloquei minha malinha no baú e depois mostrei a passagem para ele. Ele viu e começou a chorar.
— Fortaleza. Você vai para Fortaleza! Nesse ônibus? Porque?
Aí eu respondi:
— Porque é mais barato.
E ele interpelou.
— Não vale a pena, a diferença é muito pouca, não faça mais isso.
Eu levei na brincadeira. Me sentei no meu lugar lá na frente e o ônibus seguiu no caminho habitual, para Farias Brito e depois chegou em Várzea Alegre. Parou na entrada da cidade e avisaram que iam parar vinte minutos para os funcionários tomarem café. Eu fui tentar tirar uma foto da estátua do Padre Vieira com o jumento mas por causa do sol não deu certo.
Depois de vinte minutos o ônibus voltou a rodar, rodou só alguns poucos metros e parou na Rodoviária de Várzea Alegre onde já passei inúmeras vezes. Aí depois que as pessoas subiram o normal seria ir para Iguatu, só que o ônibus virou por um caminho que eu nunca tinha visto.
Aí tinha um passageiro maluco que olhou e começou a gritar:
— Iguatu, Iguatu, agora nós vamos para Iguatu.
Eu fiquei olhando aquilo, nessa hora eu comecei a me lembrar do funcionário chorando no começo da viagem e fui atrás de um documento que fica na parede do ônibus, e que tem todos os itinerários do estado. É um livrinho que é feito pelo Governo e que é obrigatório ter uma cópia no ônibus.
Só que não tem todos os municípios por onde o ônibus passa, é só os municípios onde o ônibus para em rodoviária ou similar.
Aí chegamos em um lugar chamado Mangabeira. Eu nunca tinha nem passado por esse lugar. Subiu o rapaz e sentou do lado do maluco.
O maluco começou a perguntar:
— Onde é que nós tamo? Onde é que nós tamo? Onde é que nós tamo?
Ai o rapaz respondeu.
— Mangabeira.
E o maluco?
— Pra onde é que nós vamo? Pra onde é que nós vamo? Pra onde é que nós vamo?
Aí o rapaz respondeu:
— Lavras da Mangabeira.
Pior que não existe no Ceará um município chamado Mangabeira. Sei lá onde a gente estava. Devia ser algum distrito de Várzea Alegre ou de Lavras da Mangabeira. Mas aí o maluco continuou.
— E Iguatu? Aqui não é Iguatu não? Quando é que a gente chega em Iguatu.
Depois o maluco se calou. Eu fiquei estudando o livro tentando descobrir por onde a gente estava indo. Não que fizesse muita diferença saber ou não. Mas terminei descobrindo que a gente iria chegar em Fortaleza por Russas. O rapaz paciente desceu logo e o maluco desceu sem nem uma indicação de saber onde estava. Normalmente um passageiro descer no lugar errado dá problema para os funcionários mas eu não percebi nem uma repercussão.
O principal dessa viagem foi mato. Muito mato. E não me refiro a florestas bonitas e com a aparência de intocadas pela mão humana que existem em meu município é mato com cara de que seres humanos mexeram e abandonaram. Muito mato! Mas eu estava tão focado na missão de bater o peso até às seis horas da noite que a viagem foi passando com tranquilidade. Ouvi muita música e nas paradas assisti acho que dois episódios de Sailor Moon. Não é grande coisa mas dá para assistir. Também rezei o terço. Na hora do almoço, conectei a internet e li alguns capítulos de Dandadan.
Eu normalmente quando saio de casa não levo celular nem um, mas nessa viagem estava com dois. Um positivo com internet móvel que eu levava desligado, só para mandar mensagem para minha mãe. Um celular muito humilde, mesmo com esse cuidado o bicho descarregou.
O outro é o que eu uso mais, eu preferia um computador linux e um celular que não arrasta para cima do que dois celulares androids mas é o que eu tenho de portátil.
Esse outro celular é um Motorola que antes foi da minha mãe, eu nunca troquei a capa. Nesse Moto eu não uso chip nem um, só conecto em wi-fi e na hora do almoço conectei só para ler Dandadan mesmo. Reler né. Só sai capítulo novo segunda-feira que vem, mas eu fico relendo os meus capítulos favoritos. Também é nesse Motorola que eu escuto as músicas e assisto desenhos. Filme e série sem ser desenho eu prefiro assistir no computador.
O ônibus estava previsto para chegar na rodoviária às cinco e meia, e a pesagem deveria ir até às seis. Eu solicitei, ou pedi para minha equipe solicitar a pesagem especial, que significa se pesar pouco antes de lutar, mas caso eu conseguisse chegar cedo poderia me pesar já na sexta e já me livrar disso.
Quando começou a parecer que eu não ia chegar a tempo fiquei agoniado. E eu percebi como o convencional é ruim. Além de vir por um caminho esquisito, chega na hora do congestionamento no trânsito.
Acho que vou parar de digitar por enquanto e publicar, depois eu continuo contando como foi.
Até.
Também conto sobre meus treinos e lutas. Ainda não sei quando vou voltar a lutar mas tomara que não demore muito.
Para continuar lutando e escrevendo preciso de sua ajuda. Ler já é uma ajuda então obrigado. Divulgar é muito bom. Ajuda em dinheiro também.
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