Projeto Los Angeles

           Projeto Los Angeles


           






  Outubro e eu ainda estou assistindo aos jogos olímpicos. Paraolímpicos também. Mas parei para dar uma olhadinha no Grand Slam de Abu Dhabi.

Mais importante que assistir tudo isso foi a estudadinha que dei nas regras da Confederação Brasileira de Judô. 

Algo que aprendi na faculdade de direito é que leis e regras não são feitas para serem lidas inteiras como se fossem romances. São textos feitos para serem consultados. 

Os textos que mais me chamaram atenção recentemente foram o Regulamento Nacional de Competições e o Critérios de Convocação.

Eu quase caí da cadeira quando li a primeira frase do Critérios de Convocação, que diz o seguinte:

"O esporte olímpico é dividido por ciclos de quatro anos, onde o apogeu são os Jogos Olímpicos."

Sério? 

Eu jurava que os documentos da Confederação Brasileira de Judô (a partir de agora vou falar CBJ), iam dizer: "não porque o ciclo de Tóquio teve cinco anos e o ciclo de Paris teve três anos."

Tanto que eu li essa frase nas redes sociais da CBJ e ouvi na boca dos técnicos que eu achei que estava nos documentos. 

Não está! 

Na documentação a CBJ demonstra saber que os ciclos olímpicos duram quatro anos.

Não importa se houve uma guerra mundial, uma pandemia ou um boicote. O ciclo continua sendo de quatro anos, quem diz o contrário está errado. Mas vamos passar desse ponto.

De forma resumida esses dois documentos que andei estudando dizem o seguinte. Todo o judô competitivo e olímpico é um só. Desde os jogos olímpicos até a Copa Samurai que acontece em Juazeiro do Norte ou qualquer outro campeonato registrado em qualquer interior desse nosso planeta que anda muito quente ultimamente.

Nesses três anos de judô, além de ouvir treinadores dizendo que o ciclo olímpico dura três anos, também ouvi alguns dizendo que os lutadores que compõem a seleção olímpica não são os melhores, são apenas os que têm mais patrocínio. Que os melhores são preteridos pela CBJ de forma escusa e desonesta.

Acontece que o Parâmetro Cinco do Critérios de Convocação diz claramente. "Investimento por Ponto. Ou IPP nos dá o custo para cada ponto conquistado pelos atletas da Seleção Brasileira de Judô."

Ele é o quinto parâmetro mas não se iluda, se você não tiver patrocínio você não vai conseguir performar nos quatro parâmetros anteriores  nem nos quatro seguintes, são nove parâmetros no total. Não é um comportamento escuso e desonesto da CBJ preferir quem tem patrocínio, é uma regra! Se você é um  membro da Seleção você pode lutar em qualquer Continental Open, que são eventos internacionais sem limite de inscrição e cujos resultados vão fazer você aparecer nos outros oito parâmetros de convocação. Mas claro existe um pequeno detalhe. A CBJ não paga nem um centavo para você ir para essas competições você vai ter que se virar.

Alguns vão dizer: injusto! Mas não é. Injusto é se você comprasse dois quimonos padrão internacional, comprasse passagens para Europa, arranjasse o dinheiro para hospedagem e inscrições e a CBJ dissesse que você não vai lutar porque não gostam da sua cara. Só que isso não acontece. Quer lutar pelo Brasil, lute. E se você estiver dizendo, é porque é o Brasil. Não! Todas as Federações são assim. Se você não é um titular da equipe japonesa mas quer lutar representando o Japão na Europa vai ter que pagar do bolso ou arranjar patrocínio. Federação nem uma tem dinheiro infinito.

Mas sobre como entrar na seleção, se tornando algo que podemos chamar de reserva. Existem algumas maneiras. A mais básica é ganhando uma medalha no Brasileiro Sênior que acontece uma vez por ano. A federação paulista não usa a palavra sênior em suas documentações, eles preferem falar adulto. Mas é a mesma coisa. Claro que adulto no judô é alguém que luta na sênior. Se você tem quinze anos de idade considerando o ano de nascimento, já pode lutar na sênior e virar um adulto para fins competitivos. Se você larga as competições quando completa vinte e um anos considerando o ano de nascimento sem nunca ter lutado na sênior você largou as competições sem nunca ter sido um adulto para fins competitivos. Ou sênior. Para evitar confusões é melhor falar sênior. Desculpe federação paulista.

Então recapitulando, para entrar para a seleção brasileira de judô o caminho mais óbvio é ganhar uma medalha no brasileiro sênior de judô. O que vai lhe dar o direito de lutar os Continentais Opens. Sendo que os mais interessantes são os Europeus Opens. Que apesar de terem esse nome aceitam lutadores de qualquer continente. A maioria são europeus, mas  vão alguns africanos que moram perto, e um bocado de asiáticos. Lutar em um Europeu Open é a forma mais acessível de lutar contra um japonês. A federação japonesa é bastante fechada, não costuma haver muitos campeonatos seniores abertos para estrangeiros lá. Mas como eles gostam muito de judô viajam para lutar em outros lugares. Viajam até a América do Sul, mas em número bem menor. Nunca tem brasileiro nos Europeus Open. O Critério de Convocações da CBJ deixa claro que brasileiros podem lutar, mas como ela não banca nem um brasileiro vai.

Estou sendo hiperbólico, eu não consultei a súmula de todos os europeus open para ver se tinha algum brasileiro inscrito, mas as que eu olhei não tinha.

Mas agora sobre o Regulamento Nacional de Competições. Que na sua página seis trás a lista de competições nacionais. Tem várias. Algumas muito complicadas de se entender. Quem quiser que eu explique me procure pelo e-mail ou Instagram, mas as mais simples de entender e que quero destacar aqui são o Brasileiro Sênior e o Brasileiro Região II.

O Brasileiro Sênior acontece todo ano no final do mês de novembro. Os medalhistas ganham o direito de lutar Continentais opens. Os campeões ganham o direito de lutar Grand Prix. Dificilmente a CBJ vai bancar essas viagens se foi só isso que você conseguiu, mas os campeões e os oito primeiros colocados no ranque nacional podem lutar nas seletivas olímpicas. Essas sim, caso vencidas lhe garantem viagens e competições pagas pela CBJ. Mas com muitas ressalvas. Se você não bater o peso, aparecer com judogi de tamanho errado, for suspenso por doping, faltar por irresponsabilidades vai ter que arcar com todos os custo ou pelo menos ficar devendo. Tudo que você pagar por sua conta ou por seus patrocinadores vai aumentar seu IPP, Investimento por Ponto aumentando suas chances de ser convocado para mais competições.

Tudo isso para quem foi bem no brasileiro sênior, mas voltando.

Para se classificar para lutar lá, você tem que ir bem no brasileiro de sua Região, de preferência ganhar. O Ceará onde moro faz parte da Região II. Todos os brasileiros regionais acontecem na mesma data no começo de abril.

Para lutar no Brasileiro Região II é preciso ir bem, de preferência vencer, a seletiva estadual que acontece no começo de março. Você pode lutar independente da cor da sua faixa, mas para ter direito a vaga é preciso ser pelo  menos roxa.

Para quem quer entrar para a seleção olímpica de judô a categoria sênior tem que ser o foco. Essa categoria é a mais abrangente. Pessoas de 15 a 59 anos, considerando o ano de nascimento, podem lutar. Embora deficientes visuais tenham direito de competir em eventos paraolímpicos com destaques para os jogos paraolímpicos que acontecem no mesmo lugar dos jogos olímpicos algumas semanas depois. As regras são claras em afirmar que um deficiente visual não pode ser proibido de lutar nas categorias típicas. Tendo como único direito em virtude de sua condição especial o de ter suas lutas começando com o kumi-kata (pegada) feito. Ou seja, a luta entre um deficiente visual e outro que não é, sempre começa e reinicia com os atletas pegando um na roupa do outro.

Em resumo essa categoria é pensada para ser a mais abrangente possível. No entanto, nem todo mundo é obrigado a lutar nela, na verdade até onde eu sei ninguém é obrigado a lutar em categoria nem uma. A CBJ providência brasileiros finais e brasileiros regionais também para as categorias sub-13, sub-15, sub-18 e sub-21. Mas todas as seletivas acontecem no mesmo fim de semana, no começo de março, junto com a seletiva Sênior.

Também acontece a seletiva veterana, para atletas com mais de 30 anos, só que ela ocorre de forma mais informal. Como não há limite de vagas, o setor de veteranos da Federação apenas convida alguns atletas ou todos os que lutaram na seletiva para lutar no brasileiro veterano.

No mesmo fim de semana ainda acontecem lutas do sub-11 e dos iniciantes que não selecionam vagas para nada, nem formal nem informalmente.

Esse ano a delegação da minha equipe teve apenas uma atleta, Vitória que lutou na sub-15. Ano que vem ela ainda vai estar nessa categoria e caso ela consiga viajar novamente espero que não seja a única atleta. Quero estar lá também. Na categoria veterano. Faltam menos de cinco meses e considero esse texto o início de minha preparação. 




Contribua com meu judô. Pix: diegosergioadv@gmail.com




        Projeto Los Angeles é como a CBJ chama todo o trabalho dela entre o final dos jogos de Paris até o final dos jogos de Los Angeles. Todos nós que estamos envolvidos no judô competitivo fazemos parte desse projeto, seja lá qual for nossa contribuição. Seja lutando e sendo mais um competidor em um evento federalizado, seja torcendo, seja ajudando um atleta com qualquer coisa. E caso o judô não seja sua modalidade favorita, você ainda pode participar apoiando a modalidade que seja mais do seu gosto. Los Angeles 2028 já começou. Faça parte desse projeto você também.


            Até!


            

          Pix: diegosergioadv@gmail.com







        Tenho aulas de Judô na Ikigai Dojô em Crato, Ceará e sou atualmente 3º kyu (faixa verde).

             
Estou planejando um projeto de judô inclusivo chamado Judô no Escuro. Pretendo ir contando mais com o passar do tempo. 

Também conto sobre meus treinos e lutas. Ainda não sei quando vou voltar a lutar mas tomara que não demore muito. 

Para continuar lutando e escrevendo preciso de sua ajuda. Ler já é uma ajuda então obrigado. Divulgar é muito bom. Ajuda em dinheiro também.




               E-mail e Pix: diegosergioadv@gmail.com
               Meu Instagram
               Meu Twitter


A gata Lua. Está com leucemia (FELV).

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

2024 Judô Tbilisi

Último texto de 2024

Portáteis