Copa Marpel Samurai de Judô 2024
Copa Marpel Samurai de Judô 2024
Em 2022 pela primeira vez eu fui para uma Copa Samurai Marpel de Judô. Não que as coisas estejam perfeitas agora, mas naquele dia tudo parecia ainda mais difícil. Eu tinha recebido um certificado de faixa azul com data errada e como o professor que tinha me dado o certificado não estava disposto a fazer novo exame naquele ano eu estava correndo risco de perder o semestre.
Eu estava treinando judô em outra academia em caráter provisório porque meu lugar de treino habitual tinha encerrado as atividades abruptamente. O lugar anterior ficava a cinco quilômetros de minha casa. Eu ia a pé. E quando não tinha carona voltava de ônibus. Ficava perto de Juazeiro do Norte, por isso eu voltava no ônibus que vinha de lá, quando não tinha carona. Mas eu ainda precisava andar um quilômetro do lugar de treino até um posto de gasolina para esperar o ônibus. Nas últimas semanas o posto tinha falido e eu precisei ficar esperando em outro local que me parecia menos seguro.
As coisas pareciam horríveis nos minutos em que eu ficava naquele ponto de ônibus sozinho. Mas quando as aulas pararam ficou ainda pior. Arranjei outra academia que na época estava filiada à mesma associação mas eu estava angustiado. Pelo menos sobrou duas passagens de ônibus no meu cartão. Quando o fim de semana da Copa Marpel Samurai de Judô chegou eu quis ir olhar. Ia ser a primeira competição sem ser de equipes depois da pandemia aqui na região.
Tudo que eu tinha eram as passagens de ida e volta. Nem um centavo para comida e nem comida para levar. Um colega salvou o dia com um grande cacho de bananas, sem esse apoio eu teria tido que voltar para casa muito antes. Foi uma experiência boa. Eu decidi que no ano seguinte iria lutar. Achava que seria na classe veterano.
No final daquele ano de 2022 eu consegui fazer meu exame para faixa amarela e recebi um certificado com data certa. No meio do ano de 2023 fiz exame para laranja e recebi mais um certificado com data correta.
Em agosto do mesmo 2023, lá no brasileiro veterano aconteceu uma morte. Um atleta enfartou. As competições de veterano ficaram prejudicadas. Não sabíamos quando voltariam a acontecer mas quando voltassem teriam protocolos mais exigentes. Terminou que quando as regras da Copa Marpel Samurai de Judô 2023 saíram diziam que a categoria iniciante, normalmente aberta para atletas até faixa amarela, iria ser aberta para laranjas, o que me dava um lugar para estrear fora das exigências da veterana.
Eu lutei e contei em texto como foi, mas fiquei pensando sobre meus próximos anos. O treinamento de judô é organizado em ciclos de quatro anos. As incertezas sobre a classe veterana me fizeram pensar que se eu quisesse realmente lutar teria que considerar a classe sênior, que é onde lutam os que estão em seu auge. Terminou que os protocolos para classe veterana que saíram em fevereiro exigiam quatro exames que o SUS cobre mas que custariam R$ 550,00 (quinhentos e cinquenta reais) no particular.
Assim que soube da necessidade desses exames fui ao posto de saúde mas mesmo agora seis meses depois ainda não consegui fazer todos. Para não ficar sem lutar, fui para a sênior mesmo.
Estreei na sênior na segunda etapa do Cearense 2024. Todas as etapas de Cearense, tanto de shiai (luta) quanto kata (forma) acontecem em Fortaleza. O motivo? Eu não sei. Quando tiver a oportunidade de perguntar porque é assim eu perguntarei. A jornada do judoca começa quando ele recebe a faixa preta, antes disso é só uma preparação. Então acho que ainda não é a hora de fazer essa pergunta.
Quando eu planejei lutar no cearense em fevereiro não passou pela minha cabeça que na hora da luta eu estaria sozinho, sem ninguém da minha equipe lá, mas terminou acontecendo. Terminei me habituando a ir lutar portando a chave da mala. Sábado o rapaz da Federação tomou um susto quando me viu com a chave na mão, disse que se eu entrasse com ela seria eliminado.
A luta no Cearense foi tão solitária que a pessoa com quem eu mais interagi foi com o adversário, que terminou como eu soube agora ficando com a medalha de ouro.
Quando faltavam duas semanas para o Cearense aconteceu a Expocrato e fui informado de que o lugar onde eu treino não iria abrir. Eu treinei o mais forte que pude na semana anterior. Foi um pouco difícil porque tive o exame teórico de graduação na hora da aula. Fiz a prova o mais rápido que pude porque queria ir logo treinar. O exame deu certo, recebi o certificado de verde com a data correta.
Na semana da Expocrato treinei sozinho. Só teve um dia que por coincidência apareceu um colega.
Agora para a Copa Marpel Samurai eu tentei replicar mais ou menos a mesma preparação, só que aprimorada.
Faltando três semanas eu treinei no meu CT habitual e no SESC. Consegui essa possibilidade de treinar em dois lugares. E ainda visitei meu colega Augusto no domingo.
Faltando duas semanas para as lutas, repliquei o treino individual que tinha feito para o cearense, mas como dessa vez o CT estava funcionando fiz um esforço de ir lá na terça-feira para pelo menos olhar. Na quinta-feira não consegui ir.
Na semana das lutas eu fiz um esforço de depois do treino individual na terça-feira ir para a aula para interagir com meus colegas que iam estrear no sábado. Na quinta-feira não consegui ir.
Meu treino individual na quinta-feira véspera da pesagem começou de forma inusitada. Acontece que desde a preparação para o Cearense que de tanto correr a unha do meu dedão direito ficou preta. E na hora que eu estava calçando o tênis para o último treino antes da pesagem ouvi um estalo. Prac! Quando olhei a unha preta tinha caído. Ficou pendurada por um pedaço ainda mas fora isso se soltou. Subiu um cheiro de sangue podre. Eu peguei a tesoura de cortar unha e fui tirando. Os pedaços saiam sujos de sangue preto. Depois disso limpei o dedo, calcei meia, tênis e fui treinar normalmente.
Depois de treinar jantei. Depois de jantar bebi um litro d'água e comecei meu jejum. Eram nove horas da noite. Ao todo passei 17 horas sem comer e sem beber nada.
Atingi o peso necessário para categoria às onze horas da manhã da sexta-feira.
Perto da uma da tarde eu me lembrei que no ano anterior os meninos de Fortaleza tinham ficado recitando um verso sodomita do que parecia ser uma letra de funk carioca, por mais de uma hora. Enquanto estávamos na fila. Tive a inspiração de verificar se a playlist gratuita do Amazon Music podia ser baixada para ouvir sem internet e podia. Fui me pesar confiante que dessa vez teria fones de ouvido para me defender de Sodoma e Gomorra. Mas chegando no lugar dessa vez não vi ninguém. Entrei na quadra do ginásio e só então vi alguém. Perguntei onde ia ser a pesagem e me indicaram. Quando cheguei na balança extraoficial encontrei com meu adversário. O mesmo que eu tinha enfrentado em Fortaleza. Subi na balança ainda ouvindo música e já alcancei o peso da categoria com meio quilo de folga. Meu adversário me aconselhou a tirar o celular e a camisa quando fosse me pesar oficialmente. Estava tendo algum problema com a balança ou com as fichas mas não demorou nem dez minutos e pude me pesar. Sem celular e sem camisa pesei um quilo a menos que o limite da categoria.
Enquanto tomava o isotônico conversei com meu adversário. Olhamos o chaveamento no celular dele e constatamos que seria um rodízio de cinco lutadores, todos contra todos, cada um teria que lutar quatro vezes. Depois de um tempinho voltei para casa.
No dia seguinte na área de aquecimento fiquei sabendo que um dos adversários tinha machucado o dedo lutando pela manhã e não ia aparecer. Todos teríamos uma vitória grátis. Era preciso duas para medalhar.
Lutei contra um cara muito ágil. Foi uma experiência interessante. Eu não pensei que ia encontrar um adversário com menos força física do que eu. Mas esse era. Eu podia conduzir ele com alguma facilidade. Só que não tinha como derrubar ele era realmente muito ágil. E aplicou uma técnica de sacrifício muito bem treinada. Parece que ele ganha a maioria das lutas com essa mesma técnica e acerta mesmo em adversários que já enfrentaram ele antes. Judocas não são Cavaleiros de Ouro.
Quando me chamaram para ganhar uma luta sem lutar eu percebi que o nome no placar não era do rapaz que machucou os dedos, era de outro. Percebi que tinha ganhado uma medalha. Mas tinha uma luta ainda. Ia ser valendo prata. Ia ser virtualmente impossível. Mas eu tinha que me esforçar.
Esse adversário ao contrário do primeiro é mais forte do que eu, apesar de menor. Mas estava muito cansado. Tinha lutado na sub 21 antes. Nas palavras de minha mãe que assistiu ao vivo pelo Youtube, "não foi tão feio".
Na quarta luta aconteceu de eu estar com a chave na mão antes de entrar, o que assustou o rapaz da Federação. Eu entreguei para a professora. E assim garanti uma completamente inesperada medalha na categoria Sênior.
Mais tarde em casa minha mãe me perguntou o que tinha acontecido com o rapaz que se machucou na minha área de luta. Eu respondi que a ambulância fica o tempo todo levando gente para o hospital e que quem está lutando não tem tempo de verificar o que aconteceu com cada um. E é verdade. Quando eu digo que sair da área de luta andando é uma vitória, eu estou sendo completamente sincero. E mesmo nas regras é assim. Eu ganhei duas lutas. Porque meus adversários se quebraram em outras categorias? Aparentemente sim. Mas continuam sendo duas vitórias. Claro. Eu quero ganhar com os adversários presentes. Principalmente depois de conseguir minha faixa preta é esperado que eu consiga isso. Mas por enquanto vou me aprimorando.
Ano que vem tem mais. E possivelmente vou finalmente estrear na veterana. Me sigam para acompanhar minha jornada.
Estou trabalhando em uma versão impressa do meu blog, uma revista. E alguns outros projetos de escritor. Mas lá para maio meu atual ciclo de aprendizado termina para se iniciar um novo ciclo de competições. Convido-os a me acompanhar até lá e além.
Só mais uma coisa. A medalha de ouro ficou com o mais ágil. Ele venceu as duas lutas com facilidade e com a mesma técnica. Mesmo sendo fisicamente mais fraco que os adversários.
This is Judo.
Até.
Sobre meus três anos de aula de judô.
Para a celebração poder acontecer várias coisas precisam dar certo. Eu preciso passar no exame de faixa que vou fazer em breve, eu preciso conseguir lutar no cearense e na copa Samurai e eu não posso estar doente e nem machucado. E para os leitores receberem a revista, obviamente ela precisa estar pronta.
Qualquer um de vocês pode me ajudar com a revista, me mandando textos, fotos ou desenhos. Só falar comigo por e-mail ou outro meio.
Meu plano é ensinar sobre esporte e guerra através do xadrez e do judô.
Pix, Paypal e e-mail: diegosergioadv@gmail.com
Comentários
Postar um comentário