Portáteis

  Olá leitores.









Começou 2025. Saiu o calendário oficial da Confederação de Judô, indicando que minha próxima luta vai ser no dia 8 de março. Depois do carnaval. Há vários custos para que eu realmente consiga viajar para Fortaleza e lutar. Peço que você leia esse texto e ao final contribua com um pix de qualquer valor para apoiar tanto a minha viagem quanto o meu projeto Judô no Escuro. Que na prática são uma coisa só, cada treino, cada luta, é um tijolo nessa construção. 

Pretendo abrir uma academia de judô no comecinho de 2028 e entre outras coisas administrar aulas em que todas as técnicas e lutas serão aplicadas por alunos no escuro ou vendados. Inspirado na tradição dos antigos guerreiros japoneses de estarem preparados para lutarem em todas as situações possíveis e ao mesmo tempo criando um espaço de inclusão para aqueles que queiram se tornar para-atletas.

Mas mesmo que tudo em minha vida hoje esteja conectado ao judô, o tema principal desse texto é videogame.

Eu lembro que antes de 1994, eu via alguns videogames por aí, principalmente Ataris. Mas foi depois da Copa do Mundo daquele ano. Depois da URV, que começaram a aparecer os Super Nintendo Entertainment System. Eu nunca tive um, mas haviam as locadoras onde você pagava para jogar meia hora. Não me lembro o preço. 

O Super Nintendo foi um marco porque trazia jogos complexos e devido às locadoras ficou acessível. Antes havia os minigames chineses, uns portáteis que traziam jogos extremamente simples.

Demorou uns quatro anos para aparecer um videogame portátil com jogos complexos, o gameboy. Alguns poucos meninos ricos tinham, e tinha para alugar para o fim de semana, mas era muito caro. Parecia um luxo sem muita graça, jogar na televisão parecia mais interessante.

Eu sei que em 1999 surgiu um desenho animado chamado Pokémon, abreviatura de Pocket Monster, monstro de bolso. Eu vi alguém assistindo em algum lugar, o canal Record não passava em minha casa. Na época achei um desenho grotesco. Mas hoje em dia, analisando em retrospecto minha opinião sobre esse desenho é ainda mais negativa do que era na época. É realmente um lixo, capaz de atrasar as crianças que assistem. O protagonista é um menino burro chamado Ash, que nunca aprende nada e nem cresce. Ele está sempre cometendo os mesmos erros e motivado em ser um tal de mestre pokémon que nem ele mesmo sabe o que é.

Mas o que é que esse desenho bizarro tem a ver com videogames? Na época não parecia ter nada a ver. Só depois, com mais informações que eu fiquei sabendo que aquele desenho foi feito para divulgar um jogo que tinha saído um ano antes. O jogo saiu no Japão em 1996 e o desenho lá saiu em 1997. Já no ocidente o jogo saiu em 1998 e o desenho como eu disse saiu em 1999.

Esses jogos saíram para o portátil, o Game Boy. Aquele brinquedo de rico. Foi só em 2000 que saiu um jogo de Pokémon para videogame grande que os pobres podiam jogar em locadoras, o Pokemon Stadium.

Em 2001 através dos emuladores, programas que faziam um computador de mesa rodar um jogo de gameboy a gente que só tinha visto um gameboy de longe pode finalmente dar uma olhada nos jogos de 1996. Que se chamavam Pokémon Blue e Red. Na verdade os nomes em japonês são outros, mas não vamos complicar muito.

Em 2003 eu tive finalmente um computador e pude jogar um jogo da série. Foi o Pokémon Crystal. Todos os jogos da série principal rodam em torno da mesma ideia. Você é uma criança de dez anos que pode juntar monstros, que podem ser guardados no bolso. Você pode andar com seis de cada vez. E se quiser ficar mais poderoso você precisa desafiar e vencer os oito líderes de ginásio, depois de uma vez só vencer cinco oponentes em sequência para ser considerado o campeão.

Eu jogava com uma cópia em italiano. Não entendia quase nada do que estava acontecendo e lembro de ter derrotado três líderes. Depois me cansei.

Em algum momento joguei um pouco de RPG de mesa de Pokémon mas que também não foi para frente. E tudo isso ficou lá em 2003.

Acontece que ano passado, depois de lutar judô na Copa Samurai lá em setembro, eu decidi retomar meu tratamento dentário. E tinha um problema relativamente grave que me levou a fazer duas pequenas cirurgias e passar várias semanas parado. Com muito desse tempo sendo passado deitado. Isso me deixou com uma vontade que a muito tempo eu não sentia, vontade de jogar em um portátil.




Minha medalha da Copa Samurai



Eu eventualmente falo sobre videogame com as pessoas e terminava dizendo que o melhor jeito de jogar é numa mesa, com teclado e mouse. Nem os joysticks faziam sentido para mim. Mas ao me ver limitado eu percebi que videogames tem mais de uma posição para serem jogados.

Principalmente, sentado com as mãos na mesa ou na frente de uma tv, essa ainda é a minha posição favorita. 

Em pé, apenas para não ficar muito tempo sentado ou porque você está em um momento que não dá para ficar sentado, ou para aproveitar e fazer algum tipo de exercício. 

E claro, aquela posição que me fez repensar tudo, dá para jogar videogame deitado.

Atualmente por causa do judô eu frequentemente busco compreender a maneira de pensar dos japoneses, para compreender a maneira de pensar do criador do judô. Eu não entendia que graça eles viam nesse joguinho de monstros de bolso. Um jogo repetitivo. Toda vez você treina monstros, para derrotar oito líderes, e cinco chefões. 29 anos que eles continuam jogando a mesma histórinha. Já são nove edições, ou gerações, do mesmo jogo. Mas recentemente eu entendi. A repetição é muito importante na cultura deles. Pois é repetindo algo que se aprimora, é repetindo algo que se aprende a fazer aquilo cada vez melhor. E pode ser qualquer coisa. Um crochê. Um instrumento. Uma arte marcial. Ou um joguinho de videogame. Isso não lhe limita. Claro que sempre tem os viciados que esquecem de partes da própria vida para cuidar só de uma. Mas a maioria dos que jogam Pokémon no Japão sabem viver tendo a jornadinha do joguinho como uma companhia. Nos trens e ônibus. Não no trem bala. Outra coisa que eu aprendi sobre o Japão. Quase ninguém viaja de trem bala. É um meio de transporte mais caro que avião. O japonês médio viaja no mesmo transporte que o brasileiro médio, ônibus. Claro que lá as rodovias são melhores, mas aí é outro assunto.

E nesse ônibus para viajar para longe, ou no metrô para viajar para perto muitos viajam jogando seu joguinhos no seu videogame portátil. E a repetição do joguinho é uma inspiração para suportar a repetição da vida real.

Eu então voltei a jogar. Não o Crystal que tinha acabado de sair quando eu ganhei meu computador. Mas o Blue. Que saiu no ocidente em 1998 e que dois anos antes saiu no Japão mas que era chamado de verde.

E não de forma apressada, treinando só um monstro e tentando vencer tudo com um monstro só, de forma apelativa.

Eu agora uso dois monstros contra o líder que usa dois monstros. Uso monstros no mesmo nível dos monstros que o líder está usando. Não uso itens durante a luta e não uso itens que me dão vantagem exagerada. E quando perco lutas, jogo itens fora, ou liberto monstros recém capturados, como um pescador que solta o peixe logo depois de pescar, para que a derrota tenha significado.

Com essa abordagem venci quatro líderes, um a mais que os três da adolescência e com muito mais significado. Fazendo uma rima com minha vida real e meus pesados desafios reais. Estou treinando meus monstros no momento para enfrentar Sabrina, a quinta líder. Com muita calma. Ao mesmo tempo que faço outras coisas. 

Eu descobri que o menino burro do desenho, que não cresce, nem aprende e que nunca vai ser mestre de nada, é só um personagem bestão para atrair crianças de até dez anos. Que existe um personagem muito diferente nos videogames e histórias em quadrinhos. Esse aprende, cresce. Se machuca. Seus pokémons se machucam e leva semanas, meses, para se recuperar. Às vezes não se recuperam nunca. Tal qual os animaizinhos da vida real. Tal qual a gata Lua que está ali dormindo e sofrendo de leucemia felina. 




A gata Lua





Esse joguinho tem me ajudado a deixar minha vida mais palatável e eu não escrevi isso aqui para convidar ninguém a jogar nada. É um convite para que vocês deem significado às coisas. Porque isso deixa a vida mais interessante. 

É só isso.




Até.




        Pix: diegosergioadv@gmail.com








        Tenho aulas de Judô na Ikigai Dojô em Crato, Ceará e sou atualmente 3º kyu (faixa verde).

             Meu plano é ensinar sobre esporte e guerra através do xadrez e do judô.

          Pretendo lutar em Fortaleza no dia 22 de fevereiro. Qualquer ajuda é bem vinda, me ler já é uma grande ajuda. Divulgar é muito bom. Ajuda em dinheiro também.



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