Pau por espelho

       

        Sobre quando saímos da idade da pedra.

          

Chegada dos portugueses ao Japão.


        Olá leitores.

         Mesmo antes de ter um computador eu jogava um jogo chamado Age of Empires II. Eu ainda jogaria hoje se pudesse. Mas as versões que existem agora são pesadas demais para meu humilde computador com processador Intel I3 e 4gb de Ram. Para quem não conhece, nesse jogo você controla uma civilização e é preciso subir de era tecnológica para ficar mais forte e derrotar as civilizações inimigas. 

Eu penso nesse jogo quando estudo o começo da história escrita do Brasil. Que começou com a carta do Pero Vaz de Caminha aquele português safado, corrupto e mentiroso.

Desde o primeiro encontro aquelas pessoas começaram a se misturar. Compartilhar tecnológias, fazer sexo e consequentemente terem filhos. 

Os nativos que primeiro tiveram contato mais profundo com os portugueses como uma civilização de Age of empires puderam subir de era tecnológica de um segundo para o outro. Foram da idade de pedra polida para a idade dos metais em um instante. 

Entre 1500 e 1530 eles tiveram acesso a ferramentas de metal em troca de toras de pau-brasil. Que eles cortavam com machados de pedra. Por ferramentas de metal entenda espelhos (vidro com metal), facões e anzóis. 

A partir de 1530 quando os portugueses começaram a colonização de fato, começaram a empregar os nativos em suas atividades. Os aliados eram explorados como mão de obra mal remunerada e os inimigos eram explorados como escravos. Ser branco era requisito para os cargos públicos mais importantes. Então embora muitos nativos tenham sido incorporados a colonização em posições melhores. Esses negavam sua origem. A história que a gente aprende na escola tenta negar isso. 

Porque como meus professores tiveram a bondade de me explicar, a história que eles aprenderam nas faculdades e que ensinavam para nós era a história marxista. A versão da história que tenta explicar todos os acontecimentos da humanidade através de uma luta de classes entre a classe dominante e a classe dominada. 

A princípio eu não vejo problema nem um nessa idéia, o problema reside em tentar reescrever a história para se posicionar sempre na classe dominada, injustiçada que não teve nunca oportunidade nem hoje nem nas gerações anteriores.

Alguns culpam o sistema capitalista pela existência das desigualdades sociais. Mas isso não faz sentido. Mesmo antes dos portugueses chegarem aqui, antes da ideia de dinheiro ser assimilada já existiam desigualdades sociais. Os nativos que se aliaram aos portugueses já massacravam outros nativos que eles consideravam inferiores. E com ajuda dos portugueses tiveram acesso a mais tecnologia para massacrá-los com ainda mais eficiência. 

Mas nós precisamos fingir que somos sempre as vítimas. Nossa cultura celebra a pobreza. Vejamos as principais obras literárias de nossa cultura segundo os especialistas.

A hora da estrela: Sobre uma mulher que nasceu na miséria do nordeste.

Antes do Baile Verde: Coletanias de contos com muita pobreza e sofrimento.

O auto da compadecida: Dois pobres tentando sobreviver na pobreza do nordeste.

Capitães de Areia: Sobre meninos pobres no nordeste.

Dois Irmãos: O narrador personagem é filho da empregada.

Dom Casmurro: Sobre uma pobre querendo casar com um rico.

Grande Sertão Veredas: Sofrimento no sertão de Minas Gerais e Bahia.

O quinze: Sobre a seca no nordeste.

Quarto de Despejo: Sobre uma favelada na periferia de São Paulo.

Úrsula: Sobre uma pobre querendo casar com um rico.

Isso é normal. 

A gente tem mais facilidade de falar sobre o que a gente vive. É muito mais fácil escrever sobre pobreza do que imaginar um mundo perfeito e sem sofrimento. Mas eu estou cansado. Queria que pelo menos no cinema os cearenses tivessem acesso a tecnologia de ponta, tivessem o que comer e um lugar decente para fazer suas necessidades. Eu estudo muito o povo japonês. Não porque eu seja fã da cultura deles. Muito pelo contrário. Vou aqui escrever um curto diálogo que tive com um fã de cultura japonesa em um fórum sobre desenho animado japonês. (Anime é como os fãs de cultura japonesa chamam os desenhos animados japoneses.)

— Anime é tudo ruim. 

— Então o que você está fazendo aqui?

— Estou aprendendo sobre o assunto para falar mal com mais argumentos.

— Não tem nada pra fazer não?

— Essa pergunta é retórica ou você está realmente interessada na minha rotina?

(...)

Respondendo a pergunta da moça embora ela não estivesse interessada na resposta mas apenas tentando me chamar de vagabundo. Eu não sou vagabundo não. Eu tenho muito o que fazer. Mas mesmo assim eu separo tempo para entender o Japão. Porque é um povo que assim como nossos ancestrais se encontraram com portugueses nas suas praias. Assim como nossos ancestrais, eles estavam em uma era de desenvolvimento tecnológico muito atrás da dos portugueses. Eles estavam no sistema feudal. Os portugueses estavam no metalismo. Ou seja, para os japoneses a grande riqueza era a terra enquanto para os portugueses a grande riqueza era o ouro. A principal arma dos japoneses era o arco e flecha, assim como para nossos ancestrais. Só que nossos ancestrais estavam na idade da pedra. Seus arcos e flechas eram muito menos avançados do que os arcos e flechas japoneses. 

Os japoneses também negociaram o "pau" deles com os portugueses, mas em vez de espelhos, facões e anzóis, (eles já tinham essas coisas), eles receberam tecnologia para construir armas de fogo e navios melhores. Apesar disso eles não saíram do sistema feudal. continuaram por mais trezentos anos. Mas continuando as comparações.

A cultura dos japoneses tem obras literárias e visuais que cobrem todos os assuntos que se possa imaginar. 

Eu tenho muita vontade de ver uma literatura e cinema brasileiro que fale não só de pobreza. Pelo menos na ficção eu quero ver os cearenses vencendo. Quero que construam naves espaciais e dominem a fusão nuclear. Talvez depois de vencer na ficção a gente consiga vencer na vida real. Mas eu sei que é difícil. O assunto pobreza flui muito mais facilmente de nossas mentes. Mas acho que vale o esforço. Vamos parar de trocar nosso pau por espelho pelo menos na ficção! 

Eu sei que a gente saiu da idade da pedra muito recentemente, mas precisamos começar a se mexer, ou nunca vamos acompanhar a era tecnológica de nossos adversários.


pix, paypal e e-mail diegosergioadv@gmail.com




  



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